domingo, 7 de novembro de 2021

Feridas

 Ontem falei com você 

Não perguntei como você estava 

Não trocamos confissões 

Não me mostrei vulnerável

Não lhe dei espaço para se atrever 

Ou ignorar meus atrevimentos 

Não falamos sobre o nosso mercado 

Não trocamos poesias, nem músicas

Ontem falei com você 

Mas não te li 

Todos querem te ler 

Eu só quero te esquecer 

Quando o corpo te pausa

 Essa pandemia mexeu com a cabeça de todo mundo, eu não seria diferente. Porém, algumas pessoas têm a curiosa imagem de que se você está ativo, trabalhando e com a vida online em dia, então você está bem.

Bem, esse não é meu caso, mas também não estou mal, relaxem. De todas as possibilidades possíveis ao se ficar em casa, decidi pela opção de me afundar em trabalho.

A razão disto é que a depressão é minha companheira. Conheço a danada, ela chega de mansinho, me dá um oi e, quando menos espero, ela me toma inteira. Arrisco a dizer que ela está mais possessiva do que nunca, não somente aqui. Ah, não! Ela é uma amante plural e esses tempos em que vivemos fornecem o exato contexto para que ela se apodere de muita gente e crie raízes. Sabendo disso, eu ando dando uma rasteira na bichinha através de trabalho.

Só que ao invés de depressão estou ganhando ansiedade, insônia e um tantinho de outras coisas aí.

Semana passada tive uma mastite, mesmo tendo parado de dar leite há algum tempo, também peguei gripe, infecção na garganta, dermatite, sinusite… Meu corpo falou: Te aquieta aí, rapariga! Eu me aquietei? Não…

Mas acalmei, respirei, diminuí o ritmo, adiei compromissos e parei de falar na internet por um tempo. Trabalhei quietinha, tranquila e com o nariz escorrendo.

Com esse blábláblá todo, eu quero dizer o quê? Que a gente precisa conversar mais com nosso próprio corpo. Ouvir o que ele diz e levar em consideração pausar ou, ao menos, diminuir, se for isso que ele estiver pedindo.

Isso inclui a presença da minha companheira, amante e amiga: a depressão. Nossa, Elisa, mas como assim a depressão é sua amiga? A depressão é uma resposta, a ponta do iceberg e se ela aparece, pessoa querida, é melhor pausar e conversar com ela também. O que nos leva ao fato de que a depressão não é uma vilã, ela é um sintoma de coisas que precisam ser tratadas em sua mente e em sua vida. Claro, com psicólogo e, se necessário, psiquiatra.

Em resumo, meus queridos, escutem seu corpo e respeitem suas pausas.

Devaneios tolos a me procurar

 Faz algumas semanas que não durmo bem, estava em dois trabalhos de revisão também e quando reviso tendo a me imergir profundamente nas obras. Não por ser do ofício que me cabe, mas porque as histórias me capturam e é por isso que gosto dessa labuta, porque naquele momento ali me torno parte da história, ao mesmo tempo em que tenho o poder de modificar a danada que me confronta. É fantástico.

Enfim, pretendo trazer alguma frequência para este espaço que observam, quanto a quando… Aí já não sei.

Outro motivo para o meu afastamento é, também, a minha saudade. Acho que não sou muito cabível dentro do conceito de amigar. Até faço umas amizades profissionais, longe de mim reclamar delas, são maravilhosas, mas em geral falho na tarefa quando é algo mais íntimo. Em dado momento me vejo incompreendida e intensa como sou, sinto só e fico só. Nada que eu não consiga lidar. Lido com abandonos desde cedo e já vivi alguns bem pesados.

Enfim, a vida tem seus ponteiros malucos e incansáveis. O problema é que dói, saudade dói, principalmente quando é um rosto que você tinha como afeto, mas as ações dessa pessoa mostram que você não era nada. Devia ser uma amizade platônica, coisa da minha cabeça, já tive algumas em que as pessoas não sabiam da relação, essas, pelo menos, são boas.

E é isso, hoje não tenho muita coisa boa pra falar. Tem acontecido muita coisa boa. De verdade, e fico feliz com isso. Mas meu coração segue sangrando, vai estancar em algum momento, sei que vai. No mais, fiquem com as coisas boas da rede social ao lado e esqueçam este amargor momentâneo aqui. Um gole de café, um cheiro no meu pequeno e uma conversa entre amigos literários resolvem o problema, e isso eu tenho todo dia.

domingo, 22 de agosto de 2021

Sonata da ausência minha

Meus olhos atravessam sua carne

feito lâmina afinada


E decido cortar seus tecidos

Quebrar seus ossos

Sintonizar você


Eu não quero seu prazer

Mas o tenho se pedir

Não o canto


Esse golpe inesperado 

De não te desejar

Desafina-te


Eu poderia te olhar

Dar o golpe final

Mas toco solo


Me ausento porque te amo