sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Enquanto a chuva cai

Manoel Bandeira

A chuva cai. O ar fica mole . . .
Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.


Torvelinhai, torrentes do ar!


Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.


Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.


Volúpia dos abandonados . . .
Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer . . .


Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!


A chuva cai. A chuva aumenta.
Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!


Eu te bendigo, água que inundas!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!


E eu te amo! Quer quando fustigas
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.


É que na tua voz selvagem,
Voz de cortante, álgida mágoa,
Aprendi na cidade a ouvir
Como um eco que vem na aragem
A estrugir, rugir e mugir,
O lamento das quedas-d'água!

Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira.html

Manoel Bandeira - Biografia

Manuel Bandeira




Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho


Biografia




Nasceu em 19/04/1886, no Recife e morreu em 13/10/68, no Rio de Janeiro. Poeta que provavelmente foi a principal figura do Modernismo brasileiro, embora tenha se recusado a participar da Semana da Arte Moderna de 1922, em São Paulo.

Bandeira foi educado no Rio e São Paulo, mas em 1903 a tuberculose forçou-o a abandonar seu sonho de ser arquiteto (o pai era engenheiro). Muitos dos seus anos seguintes ele passou viajando em busca da cura, e durante este período leu extensamente e retomou a produção de poesia (seu primeiro poema, em alexandrinos, tinha saído em 1902).

Seus primeiros livros (A cinza das horas, 1917, e Carnaval, 1919) mostram a influência tardia dos simbolistas e parnasianos, mas alguns poemas de seu livro seguinte (Ritmo dissoluto, 1924) já contemplam a sensibilidade do modernismo emergente, que tentava liberar a poesia do academicismo e da influência européia. Libertinagem (1930) mostra claramente tendências modernistas nos seus versos livres, linguagem coloquial, sintaxe pouco convencional e o uso de temas folclóricos. Seus livros seguintes (Estrela da manhã, 1936, Lira dos cinqüent'anos, 1940, Mafuá do malungo, 1948, Opus 10, 1949, e Estrela da tarde, 1960) consolidaram sua posição como um dos maiores poetas brasileiros. Apesar de sua longa vida como poeta, só começou a ter lucro material com sua produção em 1937, quando ganha o prêmio da Sociedade Felipe d'Oliveira.

Na sua poesia, Bandeira abandonou o tom retórico de seus antecessores e usou a fala coloquial para tratar de temas triviais e eventos do dia-a-dia, com objetividade e humor.

Em 1935 é nomeado pelo Ministro Capanema inspetor de ensino secundário. Ensinou literatura no Colégio Pedro II, no Rio, de 1938 a 1943 e tornou-se professor na Universidade do Brasil naquele último ano.

Bandeira também traduziu vários poemas de inúmeros autores (Goethe, Jorge Luís Borges, Heine, Cummings, Rilke, Kahlil Gibran, Baudelaire, García Lorca, Elisabeth Browning, Emily Dickinson, Verlaine, etc.). Adicionalmente traduziu várias peças de teatro e livros em prosa, entre eles Macbeth (Shakespeare), Maria Stuart (Schiller) e A Prisioneira (de Em busca do tempo perdido, de Proust, em parceria).

Colaborador em vários jornais durante toda sua vida, produziu inúmeras crônicas e crítica artística. Foi ainda antologista (Antero de Quental, Gonçalves Dias), historiador literário (Noções de História das Literaturas) e biografista.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Reggaeton, Funk e sexo - Uma visão sociocultural da música marginal

O reggaeton assim como o funk são estilos de música marginais da América Latina. O funk no Brasil e reggaeton nos países latinos em geral. A origem de ambos foi umas mistura de estilos já marginais que tiveram a surgência de outro. Pois bem, mas a minha discussão não é sobre a origem e a atualidade desses estilos, nem sobre a pobreza de letras e ritmo de ambas. Mas a respeito do preconceito com a temática. As pessoas escutam músicas de MPB com estilos repetitivos, mas mais lentos e letras curtas que muitas vezes tratam do mesmo tema sexo e consideram essas músicas ricas de melodia e letra. Mas o sexo tratado no reggaeton e no funk não. Eles tratam de uma forma pervertida. Mas o que é tratar o sexo de uma forma pervertida? É falar explicitamente, falar claro sobre esse tema? E porque não falar claramente sobre sexo?
A respeito do ritmo e melodia é simplesmente mais uma música pop. Praticamente todas as músicas denominadas pop tem ritmos repetitivos e características de batidas fortes. Algumas variam entre batidas eletrônicas, outras em intrumentos de percurssão. Mas pode se dizer que para uma música ser pop, uma batida repetida é necessária. Isso inclui também a “sacra” música clássica quando popularizada. É só pegar uma das músicas clássicas que são mais populares como O Bolero de Ravel e popularizar mais ainda! Pronto criou-se uma música pop.
A respeito da temática elas são tratadas de forma superficial de forma geral. Mas até nisso podemos refletir. O que é um tema tratado de forma objetiva e o que é um tema tratado de forma superficial? Ambos são ditos em poucas palavras e fazem conclusões a respeito de um tema. O tema tratado de forma objetiva pode ter sentido mais completo que o tratado de forma superficial, mas considerando que para discorrer a respeito de um tema é necessário explicações e detalhes. Ambos podem ser interpretados como superficial, ou porque não? Objetivos.
A principal critica de forma geral não é a forma com que é tratado o tema. Mas o teor sexual da maior parte das músicas. Nesse sentido é uma hipocrisia sem medidas querer que um grupo marginal na sociedade, que não tem acesso à nossa “arte” fale e escreva como os “eruditos”. Por que não dar melhores condições de vida e estudo pra essa população ao invés de criticar o nível de escolaridade deles? Dizer que o sexo que eles tratam no funk e reggaeton é sujo é tão verdadeiro como dizer que o sexo da classe A ou B é limpo. Sexo é sexo. E ponto final. E mesmo com 500 anos (ou mais) de dominação católica na nossa sociedade, já passou da hora de encararmos as coisas naturais como coisas naturais. Considerar sujo o ato sexual é como considerar sujos os alimentos orgânicos por serem adubados com adubo natural, ou considerar as águas de fontes sujas porque tem barro misturado.
Não se pode falar francamente sobre sexo por hipocrisia de uma sociedade que finge ser assexuada pra ganhar mais status e dinheiro. Querer alcançar uma profissão de sucesso e se preocupar em ganhar bastante dinheiro, para ter os luxos ao bel prazer do individuo é mais sujo do que produzir uma música que fala de um ato sexual explicitamente. Eu sinceramente não gosto de funk, mas gosto sim dos ritmos do reggaeton, apesar da qualidade técnica nem sempre ser a melhor maravilha do mundo. Mas o principal nessa discussão não é defender esse tipo de música em si, mas de tirar as máscaras de Cult e intelectual antes de ouvir ou ver ou ler qualquer coisa. Porque tudo o que é produzido tem um fundo histórico e social a ser observado antes de qualquer julgamento. E julgar por hipocrisia, é uma absurdo em tempos “modernos”.


Não sabe o que é reggaeton?
http://www.reggaetonbr.com/

fonte: http://www.releituras.com/

O homem cuja orelha cresceu

Ignácio de Loyola Brandão


Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.

Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.

Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.

Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.

E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.

E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"


O texto acima foi extraído do livro "Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão", seleção de Deonísio da Silva, Global Editora — São Paulo, 1993, pág. 135.

Ignácio de Loyola Brandão - Biografia

Ignácio de Loyola Brandão


"Ela é fundamental. Ser máquina, despida de emoções.
Arrancar de dentro sentimentos e atirá-los ao lixo.
Liberar-se dos empecilhos.
Não se comover com o choro, a dor e a tristeza alheias
A dor do outro é do outro, não pode penetrar em você, te algemar."

(Impiedade)


Ignácio de Loyola Lopes Brandão nasceu em Araraquara - SP, no dia 31 de julho de 1936, dia de Santo Ignácio de Loyola, filho de Antônio Maria Brandão, contador, funcionário da Estrada de Ferro Araraquarense, e de Maria do Rosário Lopes Brandão. Foram, ao todo, cinco irmãos: Luiz Gonzaga (1933), Francisco de Assis (1934 - já falecido), Ignácio, José Maria (1946 - já falecido) e João Bosco (1953).

Inicia seus estudos na escola primária de D. Cristina Machado, em 1944, onde cursa o primeiro ano. No ano seguinte transfere-se para a escola da professora D. Lourdes de Carvalho. Seu pai, que chegou a publicar histórias em jornais locais e que conseguiu formar uma biblioteca com mais de 500 volumes, o incentivou a ler desde que foi alfabetizado. Fascinado por dicionários, chegou a trocar com seus colegas de classe palavras por bolinhas de gude e figurinhas. Mais tarde, esse fato acabou se transformando no conto "O menino que vendia palavras", primeiro a ser publicado pelo autor.

Em 1946, passa a estudar no Colégio Progresso de Araraquara. Participa de concurso de desenho patrocinado pelo Consulado da França com o tema "Como você vê a Paris libertada", sendo agraciado com os livros "Pinóquio" e "O barba azul".

Para cursar o ginásio, em 1948 ingressa no Colégio Estadual e Escola Normal Bento de Abreu, hoje Escola Estadual Bento de Abreu. Nesse período escreve seu primeiro romance num caderno, com o título de "Dias de Glória", policial cuja ação se passa em Veneza.

Em 1955, inicia o curso científico, muito embora admita hoje que foi por engano. "Deveria ter me inscrito no clássico, mais apropriado para quem pretendia se dedicar a Humanas".

A Folha Ferroviária, semanário da cidade de Araraquara, publica no dia 16 de agosto de 1952 uma crítica do filme "Rodolfo Valentino", primeiro texto de Ignácio. Dias depois, o jornal Correio Popular daquela cidade a reproduz.

Dado o primeiro passo, o precoce escritor passa a escrever reportagens, críticas de cinema e entrevistas em outro diário de Araraquara, O Imparcial. Nele aprende a arte da tipografia, lidando com composição com linotipo, clichê em zinco e paginação em chumbo. Em 1955 inaugura a primeira coluna social da cidade.

Se apaixona pelo cinema e participa, em 1953, das filmagens de "Aurora de uma cidade", semidocumentário dirigido por Wallace Leal. No ano seguinte funda o Clube de Cinema de Araraquara.

Concluído o curso científico, em 1956, muda-se para São Paulo e vai trabalhar no jornal Última Hora, tendo ali permanecido por nove anos. Um fato interessante marca sua admissão. Aguardando para ser entrevistado, ouve o chefe de reportagem perguntar quem sabia falar inglês, pois precisava de uma entrevista com o irmão do presidente do Estados Unidos, General Eisenhower, que se encontrava na cidade. Sem pestanejar o biografado disse "Eu sei". Fez a entrevista, com seu inglês capenga aprendido no ginásio e nos filmes que assistiu em Araraquara. Sua entrevista teve chamada de primeira página. Como seu francês, também aprendido no ginásio, era bem melhor que o inglês, ganhou status de entrevistador de personalidades internacionais.

Seu gosto pelo cinema permanece e, em 1961, participa como figurante de O Pagador de Promessas, dirigido por Anselmo Duarte, baseado em peça homônima de Dias Gomes, vencedor no Festival de Cannes em 1962.

No ano seguinte parte para a Itália, onde pretendia trabalhar como roteirista em Cinecittà. Para poder viver por lá, enquanto seu sonho não se realiza, manda reportagens para a Ultima Hora, faz sinopses de roteiros e faz coberturas — como a da morte do Papa João XXIII — para a TV Excelsior. Nessa época afirma que assistiu 53 vezes ao filme "Oito e meio" de Federico Fellini, o que, segundo admitiu, o influenciou na feitura do seu romance "Zero".

Na sua volta ao Brasil, começa a escrever o romance "Os imigrantes", com seu amigo araraquarense José Celso Martinez Correa. Nessa época Zé Celso dirigia a peça de grande sucesso, "Os pequenos burgueses", que Ignácio afirma ter assistido mais de 100 vezes. O romance, por não haver acordo quanto ao nome do personagem principal, não chegou a ser concluído.

Em 1965, usando de uma divulgação inovadora, lança seu primeiro livro: "Depois do sol" (contos).

No ano seguinte começa a trabalhar na revista Cláudia, como redator, chegando a redator chefe dois anos depois.

Em 1968, ocorre o lançamento de "Bebel que a cidade comeu", seu primeiro romance. O livro é adaptado para o cinema por Maurice Capovilla, com Rossana Ghessa no papel-título e roteiro do próprio Ignácio, Capovilla e Mário Chamie. O filme recebe o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de "Melhor Roteiro Cinematográfico". Ainda nesse ano, o escritor recebe o Prêmio Especial do I Concurso Nacional de Contos do Paraná por "Pega ele, Silêncio", publicado posteriormente em "Os melhores contos do Brasil". Sua mãe falece, aos 60 anos.

Baseado em seu conto "Ascensão ao mundo de Annuska", publicado em "Depois do sol", Francisco Ramalho filma "Anuska, manequim e mulher", em 1969.

No ano seguinte, casa-se com a Maria Beatriz Braga, psicóloga, ligação que duraria até 1978. Trabalha nas revistas "Realidade" e em "Setenta".

Contratado para editar a versão brasileira de "Planeta", a primeira revista esotérica do Brasil, em 1972. Nasce seu primeiro filho, Daniel.

Desde 1960 Ignácio tinha na cabeça uma idéia surgida de um conto — sobre um grupo de amigos que vai a uma vila em busca de um garoto que teria música na barriga — escrito para uma antologia de histórias urbanas organizada por Plínio Marcos para a Editora Senzala e que não chegaria a ser lançada. Escreveu, depois, diversas novelas paralelas a ela, ao mesmo tempo em que colecionava recortes de jornais, prospectos e anúncios. Com isso, reuniu material que lhe permitia ter um retrato sem retoques do homem comum, vivendo numa cidade violenta e num clima ditatorial. Em 1974, escreve o romance, com 800 páginas iniciais, sob o título "A inauguração da morte".

Feita a primeira revisão, são cortadas 150 páginas. Entrega, então, o texto ao amigo e escritor Jorge de Andrade, que sugeriu novos cortes — acatados pelo autor. Jorge comenta o romance com Luciana Stegagno Picchio, que lecionava Literaturas Portuguesa e Brasileira na Universidade de Roma. Luciana se interessa pelo texto, já com o título de "Zero" e, após lê-lo, encaminha o livro para a editora Feltrinelli, de Milão, que o publica em uma série intitulada "I Narratori", onde Ignácio fica na companhia do ilustre João Guimarães Rosa, único brasileiro até então publicado.

Em 1975, após o lançamento de "Zero" no Brasil, Ignácio participa de inúmeros encontros com seus leitores, debatendo sua obra e a situação do país. No primeiro encontro, realizado no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, ele contou com a presença de João Antônio, Wander Priolli, José Louzeiro, Antônio Torres e Juarez Barroso.

Em julho de 1976 "Zero" recebe o prêmio de "Melhor Ficção", concedido pela Fundação Cultural do Distrito Federal. Em novembro o livro é censurado pelo Ministério da Justiça e sua venda é proibida. Lança "Dentes ao sol" (romance) e "Cadeiras proibidas" (contos) e, em 1977, o infanto-juvenil "Cães danados".

Escreve "Cuba de Fidel: viagem à ilha proibida" (livro-reportagem), após participar, em 1978, do júri do Prêmio Casa de Las Américas.

"Zero" é liberado pela censura em 1979. Passa a viver com a jornalista Angela Rodrigues Alves, união que duraria até 1982. Deixa o jornalismo para se dedicar integralmente à literatura.

Nova York, Flórida, Georgetown, Albuquerque, Tucson, San Diego foram as cidades em cujas universidades o autor fez conferências, em 1980, a convide da Fundação Fullbright, dos EUA.

Em 1981, sai o romance "Não verás país nenhum". Visita a Nicarágua por ocasião das comemorações do segundo aniversário da Revolução Sandinista.

"É gol" (narrativa-homenagem ao futebol) é lançado em 1982. A convite da Fundação Alemã de Intercâmbio Cultural, viaja em março para Berlim, onde permanece por dezesseis meses. Lá, publica "Oh-ja-ja-ja", uma seleta de seu diário berlinense, ainda inédito em português.

Voltando ao Brasil, em 1983, publica "Cabeças de segunda-feira" (contos).

Em 1984, lança "O verde violentou o muro", onde narra sua experiência alemã. O senador italiano Amintore Fanfani lhe entrega o Prêmio IILA, do Instituto Ítalo-Latino-Americano, pelo romance "Não verás país nenhum", publicado na Itália no ano anterior. Assume a vice-presidência da União Brasileira de Escritores, onde permanecerá até 1986.

Participa das Jornadas Literárias na cidade de Passo Fundo (RS), em 1985. Desde então, lá comparece a cada dois anos para participar do evento. Lança o romance "O beijo não vem da boca".

Em 1986, volta a Berlim, como convidado especial, para participar dos festejos dos 750 anos da cidade. Participa de encontro sobre literatura brasileira promovido pela Universidade de Colônia, na Alemanha, ao lado de João Ubaldo Ribeiro e Haroldo de Campos. Casa-se com a arquiteta Márcia Gullo e participa, como figurante, de "No país dos tenentes", filme de João Batista de Andrade.

"O ganhador" (romance) e "O homem do furo na mão" (contos) são lançados em 1987. O primeiro receberia, no ano seguinte, os Prêmios Pedro Nava (da Academia Brasileira de Letras) e Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) na categoria "Melhor Romance". "Não verás país nenhum" é encenado no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, sob a direção de Júlio Maciel.

Em 1988, lança o volume de contos e crônicas "A rua de nomes no ar". No ano seguinte, "Manifesto verde", que havia sido publicado em 1985 como brinde do Círculo do Livro, é lançado comercialmente. Publica o álbum infanto-juvenil "O homem que espalhou o deserto".

Como diretor de redação da revista Vogue, Ignácio volta ao jornalismo, em 1990. Passa a escrever crônicas para o jornal Folha da Tarde.

"Zero", um espetáculo de dança realizado pelo Balé da Cidade, inspirado em seu romance homônimo, é apresentado no Teatro Municipal de São Paulo no ano de 1992. Vai à Zurique, na Suíça, onde participa de leituras de sua obra.

Em 1993, começa a escrever uma crônica no caderno "Cidades" de "O Estado de São Paulo" que, a partir de 2000, seria transferida para o "Caderno 2". Seu pai falece, aos 88 anos.

No ano de 1995 realiza três lançamentos: "O anjo do adeus" (romance), "Strip-tease de Gilda" (crônicas) e "O menino que não teve medo do medo" (infanto-juvenil).

Afligido por fortes tonturas, descobre existir um aneurisma cerebral. Submete-se, em maio de 1996, a uma bem-sucedida cirurgia, que dura onze horas.

Publica "Veia bailarina", em 1997, onde conta sua experiência como aneurisma. Em 15 de abril inaugura, no Instituto Moreira Salles de São Paulo, a série "O escritor por ele mesmo".

Em 1998, publica "Sonhando com o demônio", seu terceiro livro de crônicas. No ano seguinte é lançado "O homem que odiava a segunda-feira (contos).

Recebe o Prêmio Jabuti de "Melhor Livro de Contos", em 2000, por "O homem que odiava a segunda-feira".


Obras do autor:

Contos:

Depois do sol, Brasiliense, 1965
Pega ele, Silêncio, Símbolo, 1976
Cadeiras proibidas, Símbolo, 1976
Cabeças de segunda-feira, Codecri, 1983
O homem do furo na mão, Ática, 1987
O homem que odiava segunda-feira, Global, 1999

Romances:

Bebel que a cidade comeu, Brasiliense, 1968
Zero, Brasília/Rio, 1975
Dentes ao sol, Brasília/Rio, 1976
Não verás país nenhum, Codecri, 1981
O beijo não vem da boca, Global, 1985
O ganhador, Glogal, 1987
O anjo do adeus, Global, 1995

Infanto-juvenis:

Cães danados, Belo Horizonte Comunicações, 1977. Reescrito e publicado com o título "O menino que não teve medo do medo", Global, 1995.

O homem que espalhou o deserto, Ground, 1989

Viagens:

Cuba de Fidel: viagem à ilha proibida, Livraria Cultura, 1978
O verde violentou o muro, Global, 1984

Relatos autobiográficos:

Oh-ja-ja-ja (Diário de Berlim, inédito em português). Tradução de Henry Thorau. LCB, 1982

Veia bailarina, Global, 1997

Cartilha:

Manifesto verde, Círculo do Livro, 1985 e Ground, 1989

Crônicas:

A rua de nomes no ar, Círculo do Livro, 1988
Strip-tease de Gilda, Fundação Memorial da América Latina, 1995
Sonhando com o demônio, Mercado Aberto, 1998

Biografias:

Fleming, descobridor da penicilina, Ed. Três, 1973
Edison, o inventor da lâmpada, Ed. Três, 1973
Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, Ed. Três, 1974

Antologia:

Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão, organização de Deonísio da Silva, Global, 1994

Traduções:

Para o alemão:

Null (Zero), Suhrkamp, 1979
Kein land wie dieses (Não verás país nenhum), Suhrkamp, 1984

Para o coreano:

(Zero), Seto, 1990

Para o espanhol:

Cero (Zero), Galba, 1976

El hombre que espandió el desierto (O homem que espalhou o deserto), Global - México, 2000

Para o húngaro:

(Zero), JAK, 1990

Para o inglês:

Zero, Avon Books, 1983
And still the earth (Não verás país nenhum), Avon Books, 1984
Teeth under the sun (Dentes ao sol), Dalkey Archive Press, 2007

Para o italiano:

Zero, Feltrinelli, 1974
Non vedrai paese alcuno (Não verás país nenhum), Mondadori, 1983
Vietat le sedie (Cadeiras proibidas), Marietti, 1983

Adaptações:

Para o teatro:

Não verás país nenhum. Direção de Júlio Maciel, Fortaleza, Teatro José de Alencar, 1987 (baseado no romance homônimo)

Para o cinema:

Bebel, a garota-propaganda. Direção de Maurice Capovilla, 1986 (baseado no romance Bebel que a cidade comeu)

Anuska, manequim e mulher. Direção de Francisco Ramalho, 1969 (baseado no conto Ascensão ao mundo de Annuska").


Dados extraídos de livros do autor, da Internet e dos Cadernos de Literatura Brasileira, Instituto Moreira Salles, São Paulo.

Projeto: Em busca da redação perdida

Só pra explicar:
Eu escrevia muito desde que eu comecei a escrever até mais ou menos os meus 18 anos. Desde então parei.
Agora que estou passando da fase de futuro do Brasil para problema social. Estou tentando passar em concursos públicos que me interessem. E alguns deles requerem que eu faça uma redação. E como a minha redação sempre foi motivo de orgulho até alguns anos atrás. E exemplo disso são os devaneios tolos de um forma geral. Usarei esse blog como uma oficina de temas e textos para voltar a velha forma.
Porque estou me preocupando em voltar a velha forma. Porque estou estudando mas isso pouco importa, para passar em um concurso público, considerando o meu histórico de vestibular.
Qual história?
A de que eu não estudei no vestibular, passei com uma nota baixíssima. E depois fui saber porque eu tinha passado então. Porque tirei 99,9 na redação. Sim! Em busca da redação perdida. (Não estou me gabando com este fato, mas explicando o porque dessa nova e antiga dedicação).
Ah sim e para buscar inspiração e não obrigar vcs a lerem coisas ruins postarei todos os dias também um texto de algum autor que mereçam publicação.
Hasta la vista

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Devaneios tolos

Isso não é pra ser um conto, não é um conto. é história passada a ferro e fogo. Foi muito tempo, há muito tempo? A relatividade parece um barco sem remos, perdido, solitário, vulnerável. Cansei dessa relatividade das coisas, essa coisa fria tão real que queima a pele sem deixar cicatriz. Porque eu sinto toda essa contrariedade me dizendo arbitrariedades no ouvido e provocando queimaduras...nos meus pensamentos.
Afes...e ainda fico perdendo tempo alcançar a paz. Como ter paz na realidade crua do dia a dia? Encontrando uma realidade melhor dentro da realidade talvez...Porque não? A realidade se mostra em tantas paisagens e tantas cores pelas voltas da vida...
Tenho medo. Um medo absurdo da realidade.
Medo filho de jornais e revistas, famílias e outras mostras explícitas de que a violência e a desumana frieza é uma "boa forma" de analisar as coisas. Mas não é! E analisar também não é lá uma das melhores coisas quando o mundo, a vida, a rotina pedem p vc agir...e rápido. Ação essa que é o único propósito de estarmos presos nessa cela sem saída. Nosso corpo. A ação de mover a vida...Cada qual com a sua forma mais adequada.
Aiai. E pra que discutir? Por uma razão tola, me alivia...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

domingo, 17 de janeiro de 2010

Livros

http://www.miniweb.com.br/literatura/sitesdeliteratura.html

http://www.coladaweb.com/download-de-livros

http://www.gutenberg.org/wiki/PT_Obras_e_Autores_Sugeridos_%28Portugu%C3%AAs%29/Brasil

http://ateus.net/ebooks/

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp;jsessionid=3352F4C1239BD29F4EECCBF59A350A0E

http://cultvox.locaweb.com.br/inicio.asp

http://forumfighters.net/topic/10362-bibliotecas-virtuaissites-de-literatura/

http://www.sebinho.com.br/

http://www.estantevirtual.com.br/

http://www.thebooksonthetable.com.br/loja.phtml

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um dia comum de férias

Um dia comum, de férias. Com a monotonia naquela medida conhecida, das férias passadas dentro da própria cidade, e um tanto de coisas amontoadas na mente de Vivian que observava o teto, a música brasileira atual que tocava na rádio, e as marcas de acnes deixadas por ela mesma. Nada disso realmente a interessava, mas como o jornal se postava diante dela como que dizendo veja os desastres causados pelo Haiti minha filha, tenha coração, leia o resto também, porque é necessário não se alienar. Ela foi lá e leu, apesar de nunca entender o fato de ter que se manter atualizada para não se alienar ela leu. A 1ª sessão, 2ª, 3ª, um possível emprego, ligou, a 4ª e pronto. Agora que já sabia das notícias do dia, foi procurar mais sobre a mais nova versão da velha baboseira besta brasileira, o BBB 10. Encontrou, não acrescentou nada e passou de assunto. Parada diante do espelho agora, precisava escovar os dentes, mas observava cuidadosamente suas próprias expressões observava seus. Já não tinha mais aqueles olhos inocentes, e alienados? Quando mais nova ela sabia de tanta coisa, sentia o mundo pulsando em suas mãos, e a cada desastre que acontecia era um estrondo interno na proporção exata do fato. Mas ela não lia jornais nessa época. O sorriso? Deixou de ser gratuito há algum tempo também, aliás, ela não entendia como podia existir gente que entendia a verdade das coisas e ainda assim conseguia sorrisos gratuitos e fotogeinidade a qualquer momento. Ou será que eles não entendiam o que o mundo queria dizer com um terremoto de 7° na escala richard? Os dentes amarelos, amarelos da cafeína tão querida. Ela já se assumiu como cafeinada, o vício que bem sabia, era delicioso e agressivo como qualquer outro vício, mas bem menos que drogas sólidas ou líquidas vendidas por aí. E escolheu a cafeína. Enfim o rosto, traços bonitos, não tão feliz, nem tão vivaz quanto na sua adolescência. Mas Vivian estava feliz! De uma forma tão real que a impulsionava e ser ativa. Apesar de muita coisa ter mudado em suas expressões e sentimentos, hoje ela expirava muito mais amor e quanto mais o tempo passava ela amava mais o seu passado, o presente e o futuro, as qualidades e defeitos, mesmo aos novos defeitos. Cada expressão merecia sua forma de carinho e gratidão. Porque sabia afinal que tudo aquilo era a marca real de que ela viveu, e continuava vivendo, sem parar no tempo, eram as marcas das diversas experiências e aprendizados que passara. E a busca felicidade tão sonhada? Felicidade é mais do que sorrisos gratuitos, vivacidade a todo custo, e esperança ingênua. Ela estava feliz exatamente naquele momento, sim, porque sentia o tempo passando pelas suas células sem pudor algum e aumentando com o passar o tamanho e a capacidade pra sentir a vida, pelo que ela é.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

2010

1° Post do ano
Apesar da ausência no 2009
O que será de 2010?

Teve gente que me suportou
Gente que socorreu
Gente que eu socorri
Gente me me fez feliz

O que eu quero de 2010?
Não quero vitórias absurdas e estressantes
Nem emoções a toda prova
Não quero dinheiro a qualquer preço
Nem ofensas de qualquer parte

Quero mais que a ilusão
De um feliz ano novo
Com a máscara nova
E o corpo velho e desgastado

Quero paz, felicidade, mas felicidade mesmo
Não aquela felicidade amarela que desejamos no reveillon, quando na verdade sabemos que novo ano não significam flores espalhadas por todos os lados
Mas aquela felicidade interna que alcançamos quando sabemos que aquela sensação reconfortante é merecida por algum motivo.

Eu desejo amar cada vez mais cada dia mais a vida, com todas as faces e interfaces que ela me apresentar

Um grande abraço aos meus queridos